RELATO DE UMA ASSOCIADA DO NOSSO CLUBE

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A minha aventura em Ronda

Bem, antes de começar a escrever sobre a minha aventura em Ronda (Espanha), é melhor explicar como é que ela nasceu…

O meu namorado tem uma grande paixão pelo BTT, e o ano passado acompanhei-o a alguns eventos de BTT. Apesar de ter gostado, não me sentia completamente satisfeita, então foi quando lhe disse que no próximo ano também iria participar nos eventos.

Ele, não muito convencido, lá me emprestou a sua bike “dinossaura” para ir andando… não andei lá muito pois a preguiça era maior!

Quando o meu namorado me disse que ia inscrever-se para participar nos 101 Kms em Ronda, eu disse-lhe que também queria ir… ele ficou furioso, pois disse-me que estava completamente parva, nem pensar, eu não tinha condições para fazer uma prova tão dura como a de Ronda, etc… Mas teimosa como sou, lá o convenci a me inscrever também… não foi fácil. Constantemente me dava na cabeça, dizendo que eu não tinha consciência no que me ia meter, que eu não imaginava o sofrimento… enfim, foi muito chatinho, mas como sou mais teimosa que ele, a coisa até se leva bem.

Os únicos dois passeios que fiz com a bike “dinossaura” correram um pouco mal, ia morrendo, mesmo em percursos com pouca dificuldade e distância.

Assim, para ir a Ronda e andar a sério de bike, tinha necessidade de comprar uma à minha altura e com a minha cara.

Um dia entrei na loja do amigo João Eduardo e uma Orbea rosinha piscou-me o olho, fui ao pé dela, vi os euros, e pensei que não podia ser, mas ela era tão gira, era mesmo a minha cara, nunca tinha visto uma bike tão gira como aquela..

O meu namorado viu logo que tinha ficado apaixonada pela rosinha,e não é que fiquei mesmo com ela… é a bike mais linda que já vi.

Então a partir daquele momento começaram os treinos a sério (às vezes) para Ronda.

Confesso que poucas foram as pessoas que acreditaram que eu iria ser capaz de terminar os 101 Km em Ronda, mas eu no fundo até não os posso culpar, pois eles não me conhecem e não sabem que eu sou uma lutadora corajosa.

Já em Ronda…

Assim que lá cheguei, gostei muito do ar simpático da cidade. Fiquei numa casa alugada pelo amigo João Eduardo, que foi quem me vendeu a rosinha, e que também participou nos 101 Km.

Como chegamos já tarde e como inexperiente nestas andanças, o meu jantar foram dois pastelinhos, oferecidos pela Ana. Apesar da fome lá consegui dormir bem quentinha.

De manhã quando vim a rua ia congelado, tal era o frio que fazia. Não tinha roupa para o frio…

O meu pequeno almoço foi nestum com leite de soja, oferecido pelo João… obrigado amigo…

Então lá fomos ter com o pessoal amigo que tinha ficado no parque de campismo, partindo todo o pessoal daí, nas bikes, até à zona de partida que se situava no Estádio.

Ai controlei pela primeira vez o passaporte que nos acompanha durante toda a prova.

Dentro do estádio, lá estávamos todos juntos vestidinhos de azul e branco (equipamento muito lindo)

Depois de algum tempo à espera, ouvi um tiro e vi o pessoal todo a partir… lá segui o rasto e fui atrás deles, mas a um ritmo bem mais lento do que o pessoal que me rodeava. Assim que parti para a minha grande aventura deixei de ver todo o meu grupo e segui sempre sozinha.

Ao pedalar, o medo de perder o passaporte que me garantia a prova de todo o meu esforço, era uma constante. Ia sempre conferindo se o tinha comigo.

Pedalei sempre ao meu ritmo, nunca dei muito de mim, pois eu não imaginava o que me esperava pela frente. Era importante ter sempre alguma energia guardada para as subiditas que viriam…

Só encontrei pessoas simpáticas, animadoras, desde os Legionários, às pessoas que estavam à beira da estrada por onde passei, até às pessoas que comigo pedalavam, todas me encorajavam e me davam ânimo para continuar e chegar ao fim com sucesso.

Numa prova que muitos querem participar mas poucos o conseguem, o frio foi quase uma constante, e até a chuva teimou em aparecer e dar um ar da sua graça. Nestas alturas, debaixo das árvores é que se estava bem… pois as pingas da chuva magoavam ligeiramente quando batiam na cara.

Vi muitas pessoas a sofrer com caimbras, a vomitar, a caírem à minha frente, enfim para muitos uma aventura atribulada.

Recordo que numa descida perigosa, estava tanta lama que escorregava como sabão, até que a minha rosinha deixou de andar com tanta lama que tinha nas rodas. Parei para a limpar, coitada já nem se notava lá muito bem a sua cor.

De seguida o meu namorado telefonou-me e lá falei com ele… soube que ainda estava viva, não sei o que é que pensou que me teria acontecido, mas ficou mais descansado quando lhe disse que estava tudo bem.

Depois da rosinha em condições, o passaporte carimbado e o namorado descansado, lá continuei a pedalar rumo à meta. Passei pelo quartel, onde supostamente era para ter parado para comer qualquer coisa, mas como estava bem, lá me indicaram o caminho a seguir, e eu lá fui (logo não haver indicação nenhuma de que havia ali comidinha).

Eu que parei em todos os abastecimentos para confirmar que tudo estava bom (realmente estava tudo muito bom) com muita pena minha não parei no principal (fica para a próxima).

Continuando, cheguei a tão falada subida da santa. Bolas que subida, nem nos meus piores pesadelos imaginava uma assim tão dura. Até a pé fiz um esforço enorme para a fazer. Começou-me a doer as costa, uma dor tão forte que pensei que a subida da santa fosse o obstáculo de impedimento à concretização deste meu objectivo. Parei por um instante e olhei para trás e poucas eram as pessoas que me seguiam. Depois de mais algum esforço eu e a minha rosinha lá chegamos ao cimo da capela da santa, uma igreja simples, pequena e de construção recente. Foi pena estar fechada.

Seguindo viagem, e quem muito sobe, muito desce, comecei a descer por entre uma calçada perigosa que mais parecia uma serpente de tantas curvas que tinha.

A seguir à essa descida, foi pôr mudanças mais altas e pedalar a toda a velocidade… a estrada era toda minha, olhei para trás e para a frente e não via mais nenhum participante.

Depois entrei num single track junto a uma ribeira, fantástico!

Continuei a pedalar até que apanhei algum pessoa a pé (penso que seriam do duatlo).

Eu lá pedalava e o cansaço aos poucos ia-se fazendo notar, mas eu ainda tinha algumas energias para chegar ao fim. A determinada altura encontrei um conterrâneo de Olhão que já tinha feito a Maratona e estava descansadinho, e eu ainda com algum caminho pela frente. Ainda lhe perguntei se não se importava de fazer por mim a parte que faltava, mas em tom de brincadeira ele não aceitou, pois já faltava pouco e deu-me algum incentivo. (Obrigado)

Continuei a pedalar e quando ia muito bem descansadinha, passa por mim um carro e apita (que contente que fiquei), era o amigo João e a família, que tinham ido ao meu encontro, logo seguidos pelo meu namorado (a alegria ficou completa). Encontraram-me no local certo (tinha 99 Km) e por mim a meta podia ser já ali, mas mal sabia eu que ainda estava para vir uma subida (e que subida meu deus).

Os meus “anjos da guarda” estavam à minha espera logo a seguir numa pequena subida.

O meu namorado incentivava-me imenso e o amigo João, tirava umas fotos e dizia: “Uma Orbea não é para andar à mão”, mas eu já acusava o cansaço, e como todos os companheiros estavam a fazer a subida desmontados das suas bikes, eu resolvi ser solidária com eles, não fossem eles ficarem chateados com a afronta de me verem sozinha montada, subida acima.

O meu namorado perguntava-me se estava bem, e eu respondi-lhe: “Quem fica bem, depois de fazer a subida da santa?”

Despedi-me dos meus “anjos da guarda” e continuei a viagem. Ainda parei no último abastecimento para beber água.

Ao avistar Ronda pensei: “Já cheguei”… Não era bem assim , ainda faltava a subida final… sim, aquela com mais de 3 km.

Tinha que ser, então lá comecei a fazer a subida final em direcção à meta, mas as pernas já faltavam, pelo que tive novamente que solidarizar-me com os meus companheiros de pedalada.

Quase ao chegar ao fim dessa subida, avistei o João a D. Luísa e sua filha. Então como: “Uma Orbea não é para andar a pé”, lá subi para a minha rosinha e pedalei (não sei onde fui buscar forças naquela altura) mesmo já sem forças para pedalar.

O João e sua família foram um grande incentivo naquela altura, deram-me bastante coragem e força… Depois das fotos tiradas, a D. Luísa ainda me aconselhou a desmontar, mas tinha ganho nova energia (eles foram muito importantes, parece que tinha ganho nova vida) e disse-lhe: “Agora só desmonto quando chegar à meta”.

Acabei a subida em calçada, entrei na estrada principal que levava até à meta, e com toda a força recuperada pedalei, ultrapassei alguns companheiros (mais parecia um foguete)… As pessoas à beira da estrada aplaudiam e incentivavam-nos, uma sensação que por mais palavras que escreva, não conseguirei expressar o que senti…

Chegada à meta senti que tinha cumprido o objectivo a que me propusera.

Eu sabia que era capaz, estava muito orgulhos de mim própria!

Gostaria de agradecer às pessoas que me apoiaram, e me deram muita força.

Um agradecimento especial ao meu namorado por tudo.

Ao João e sua família (confesso que se não fosse o incentivo deles teria levado um pouco mais tempo a concluir a prova – naquela subida estava a ficar sem “combustível”

Obrigado mais uma vez a todos pelo apoio.




Vânia Afonso




1 comentários:

On sexta-feira, novembro 07, 2008 , Anónimo disse...

ola...

por tudo o que li e por tudo o que sei que es muitos parabens miga pela tua coragem e persistencia...

jinhos
turtle

p.s.nao contes a ninguem mas ate fiquei marejada de lagrimas a ler o teu relato...brutallllll